História do Campus Muzambinho
Histórico do Instituto Federal do Sul de Minas – Campus Muzambinho
A história da Escola Agrotécnica Federal de Muzambinho começou com a promulgação da Constituição Federal de 1946, quando, através do Parágrafo 3º do Artigo 18, foram criadas escolas agrícolas para formarem técnicos agrícolas entre os filhos de pequenos produtores rurais. Eurico Gaspar Dutra era o presidente da República (1946 a 1951) através do Decreto de Lei n.º 9.613, de 20 de Agosto de 1946 e dos artigos 2º e 4º do Decreto Federal n.º 22.470, de 20 de Janeiro de 1947, foram delineados os mecanismos para desenvolver tais escolas.
O então Deputado Federal Dr. Lycurgo Leite Filho iniciou um exaustivo trabalho para conseguir a instalação de uma Escola Agrícola em Muzambinho.
Nesse período, as diferenças políticas municipais eram grandes e, a despeito das vantagens para a cidade, os adversários políticos se opunham firmemente à vinda da escola, dificultando as negociações entre os proprietários das terras, onde se instalaria a escola, e a prefeitura municipal.
No dia 22 de outubro de 1948, finalmente os esforços do Dr. Lycurgo Leite Filho se concretizaram e foi assinado o primeiro Termo de Acordo entre o Governo Federal e o Estado de Minas Gerais, com validade de um ano, para instalar no Município de Muzambinho a Escola Agrotécnica, ligada ao ministério da Agricultura, sendo Ministro o Dr. Daniel Serapião de Carvalho.
No dia 31 de Dezembro de 1948, chegou à cidade o Dr. Hercílio Vater Faria, engenheiro agrônomo, funcionário do Ministério da Agricultura, para receber a gleba de terras, onde seria instalada a Escola Agrícola, que deveria ser doada pela prefeitura. Esse fato deixou a cidade em polvorosa, uma vez que essa gleba deveria ser entregue naquele dia, o último do ano. O então prefeito municipal, Sr. Messias Gomes de Mello ficou diante de um sério problema quando o engenheiro lhe apresentou a Portaria da SEAV segundo a qual a doação deveria ser efetivada impreterivelmente naquele dia, caso contrário à cidade perderia o direito à Escola.
As terras, onde seria instalada a escola, foram escolhidas por uma comissão formada pelos engenheiros agrônomos Luiz Mendes de Carvalho, Bolívar Miranda Lima e pelo médico Dr. Americano Dalto de Almeida. O local era pleiteado também para ser o Aeroclube de Muzambinho (ideia muito em voga na época).
As negociações para a entrega das terras foram penosas, uma vez que os proprietários estavam sendo coagidos a não facilitar as negociações, por questões políticas, quando a prefeitura ameaçou desapropriar as terras, seus proprietários cederam, porém exigiram que o pagamento fosse feito em dinheiro na “boca do caixa”.
O Gerente do Banco Nacional de Minas Gerais, Sr. Pedro Primeiro Gouveia do Prado se prontificou a arrumar o dinheiro, tendo um grupo de cidadãos endossado um título emitido pela prefeitura no valor de Setecentos e vinte contos de réis.
Na noite do mesmo dia 31 de Dezembro, a Câmara Municipal de Vereadores reuniu-se em sessão extraordinária para votar a lei que autorizava a Prefeitura a doar ao Governo da União a gleba de terra demarcada pela comissão.
Em Janeiro do ano de 1949, a Prefeitura Municipal de Muzambinho, através de procuração, outorga poderes ao Deputado Estadual Dr. Manoel Taveira de Souza para assinar a Escritura de doação ao Governo da União, através do Serviço do Patrimônio da União.
Nesse tempo, o Dr. Hercílio Vater Faria começou a tomar as providências para a construção da escola, contatando fornecedores de materiais e arregimentando pessoal. A essa altura o grupo que defendia o Aeroclube se desfez e registrou o encerramento de suas atividades em um livro de atas.
Foram contratados para as obras, entre muitos outros, os senhores Nello e Hermenegildo Pulcinelli, Willian Pioli, Antônio Esaú dos Santos, José Esaú dos Santos, Benedito Dino, Márcio Siqueira, Rubens Bonelli Abrão, Roque Magalhães Filho e muitos outros que construíram com suas mãos a história da Escola Agrotécnica Federal de Muzambinho.
No dia primeiro de Julho de 1949, iniciou-se oficialmente a construção da Escola Agrotécnica de Muzambinho. O projeto dos jardins ficou a cargo do Dr. Coutinho do SEAV.
As obras foram paralisadas em outubro de 1950 devido à dificuldade do repasse de verbas para pagamento de pessoal. Era, coincidentemente, ano de eleições presidenciais e o Executor do Acordo, Sr. Hercílio Vater de Faria, foi convocado a comparecer ao Rio de Janeiro onde ficou até as eleições.
Em 1951, as obras foram reiniciadas e, em dezembro de 1952 o Dr. Lycurgo Leite Filho conseguiu verba suplementar do Governo para a construção de uma usina hidrelétrica. Após o levantamento da bacia hidrográfica e dos estudos concernentes ao assunto, teve início a Concorrência Pública, cabendo à firma Siemens Schuckert S.A. o fornecimento das turbinas. Todo o material utilizado foi fabricado em Heidenheim, sul da Alemanha, especialmente para a Escola. Provavelmente houve uma parceria entre a Siemens e a Voith para o fornecimento dos equipamentos.
Na primeira quinzena de Fevereiro de 1952 foram realizadas as inscrições para o primeiro vestibular do Curso de Iniciação Agrícola, com início das aulas previsto para o princípio do mês de março daquele ano, sob a direção do Dr. Hercílio Vater de Faria. Ao todo se inscreveram quatrocentos e cinquenta e três candidatos, sendo classificados cento e quarenta e seis.
Na Segunda quinzena do mês de fevereiro a Escola recebeu a visita do então Ministro da Agricultura, Dr. João Cleóphas, do Deputado Dr. Lycurgo Leite Filho e de Membros do Gabinete Ministerial a fim de realizarem uma inspeção para promover a vinda do Presidente da República, Getúlio Dornelles Vargas, para a inauguração oficial do Estabelecimento.
No dia 22 de Novembro de 1953 chegou a Muzambinho o Presidente da República, Getúlio Vargas, acompanhado de uma comitiva para a inauguração da Escola Agrotécnica de Muzambinho. Entre os integrantes estavam Juscelino Kubitschek de Oliveira, Governador de Minas Gerais, Dr. João Cleóphas, Ministro da Agricultura, Dr. Tancredo Neves, Ministro da Justiça, Senador Assis Chateaubriand, Deputado Lycurgo Leite Filho, Dr. Renato Costa Lima, representante do Governo do Estado de São Paulo, além de oficiais de Gabinete da Presidência da República, Ajudantes de Ordens, Parlamentares e a Guarda Pessoal do Presidente comandada pelo Tenente Gregório Fortunato, que pernoitaram na Escola. Prefeitos, vereadores, autoridades e populares de toda a região participaram da inauguração.
As festividades da inauguração ocuparam centenas de pessoas durante os preparativos, entre estudantes, funcionários públicos e autoridades. Os dias que antecederam a visita do presidente foram de imensa expectativa para toda a população e muita coisa aconteceu naqueles dias, como o fato de a atual Rua Capitão Heleodoro Mariano chamar-se, na época, Rua 29 de Outubro em referência à data da deposição de Getúlio Vargas, em 1946. A comitiva Presidencial passaria exatamente por ali para chegar até a Escola e foi um “corre-corre” das autoridades locais para impedir que o presidente visse a placa. O nome da rua foi mudado às pressas.
Segundo informações do Sr. Messias Gomes de Mello, Prefeito Municipal na época, foi organizada uma grande festa com churrasco e chope à vontade para a população, no centro da cidade. O evento teria a presença do Sr. presidente que acabou não comparecendo à festa na cidade, ficando apenas na Escola Agrotécnica. .
Na manhã seguinte, estava tudo preparado para a primeira refeição do presidente e seus acompanhantes com lugares marcados, quando o senhor Getúlio Vargas resolve sentar-se junto aos alunos e, eis que se senta, exatamente, em um lugar onde havia uma xícara sem asa, situação desagradável que foi resolvida com rapidez, porém deixando os organizadores da recepção constrangidos. Durante a visita do presidente, houve um belo baile com a presença da alta sociedade muzambinhense em homenagem ao presidente com apresentação da banda de música municipal.
A vinda do presidente da República à Muzambinho marcou um período de transição na vida política do país, uma vez que a oposição estava cada vez mais atenta aos passos do chefe da Casa Civil.
Em Agosto de 1954 começou a funcionar a Usina Hidrelétrica que, desde 1952, estava sendo construída sob supervisão do senhor Francisco Leonardo Cerávolo e desde então tem servido à Escola apesar das dificuldades de manutenção.
Em 1956, o Dr. Hercílio Vater de Faria foi substituído na direção da Escola Agrícola pelo Dr. Marcelo Diógenes Maia, de acordo com a Portaria Ministerial n.º 434, de 20 de Abril de 1956, em função das modificações políticas por que o país vinha passando.
Em Outubro do mesmo ano, assumiu a Direção da Escola o Dr. Paulo de Azevedo Berutti, substituindo o Dr. Marcelo que foi designado para dirigir a Escola de Iniciação Agrícola de Machado.
Em Dezembro de 1958 o diretor da Escola suprimiu o Curso Técnico Agrícola, colocando 57 alunos em sérias dificuldades, sendo que, com esforços próprios, conseguiram matrículas em Barbacena, Pinheiral e Santa Tereza.
Novamente, em 1961, a direção da escola foi substituída, desta vez pelo Dr. Darcy Rodrigues da Silva.
Em 1964 volta a funcionar o curso Técnico Agrícola, com 42 alunos na primeira série. Pelo Decreto n.º 53.558, de 13 de fevereiro de 1964 a Escola passa a denominar-se “Colégio Agrícola de Muzambinho”. Neste mesmo ano o Estado de Minas Gerais deixou de depositar suas cotas para a manutenção do Colégio, conforme o Acordo firmado em 1948 e, por isso foi rescindido.
Em Abril de 1967, assumia a Direção do Colégio o Professor José Rossi, substituindo o Dr. Darcy Rodrigues da Silva. Em Maio deste ano, de acordo com o Decreto n.º 60.731, do dia 19, o Colégio foi transferido do Ministério da Agricultura para o Ministério da Educação e Cultura, com todo seu material e pessoal.
Em Dezembro de 1969 foi extinto o Curso Ginasial, passando a funcionar somente o Colegial Agrícola.
Em Dezembro de 1976 iniciavam-se os primeiros planos para a ampliação do Colégio, também neste ano formava-se a primeira turma de Técnicos em Agropecuária.
Em 1977 teve início as obras de ampliação do colégio, sendo a primeira etapa de construção de um pavilhão para a administração, reforma de dois alojamentos e construção de um reservatório para 30.000 litros d’água.
“O último decênio foi altamente decisivo, não apenas para a Escola Agrotécnica Federal de Muzambinho, mas para todo o ensino Agrícola Federal de 2º grau com a criação da COAGRI – Coordenação Nacional do Ensino Agropecuário, tendo à sua frente o dinâmico e entusiasta educador Dr. Lamounier Godofredo Júnior que remodelou e equipou todas as 33 Escolas Agrotécnicas não apenas na parte física, mas também na parte pedagógica.
Hoje a Escola possui a Cooperativa que além de oferecer as condições para aprendizagem da doutrina e dos mecanismos cooperativistas, propicia condições para comercialização do excedente de produção cuja renda é revertida para a manutenção dos projetos agropecuários.
Todos os projetos da Escola são elaborados e executados com efetiva participação dos alunos que assim aprendem na prática. Através do sistema de monitoria, os alunos do 3º ano têm a oportunidade de desenvolver suas aptidões e habilidades de liderança e administração, habilidades estas que ao lado de outras são imprescindíveis para sua atuação na vida prática futura."
A Escola conta, ainda, com um coral, uma fanfarra e aulas de judô entre outras atividades extracurriculares integrando escola e comunidade, num trabalho exemplar de seus diretores.
Diretores desde a fundação:
- Dr. Hercílio Vater Faria - 31/12/1948 a 20/04/1956.
- Dr. Marcelo Diógenes Maia - 20/04/1956 a 28/03/1957.
- Dr. Paulo de Azevedo Berutti - 28/03/1957 a 09/08/1961.
- Dr. Darcy Rodrigues da Silva - 09/08/1961 a 06/04/1967.
- Prof. José Rossi - 06/04/1967 a 03/07/1988 e 09/05/1990 a 03/05/1994.
- Prof. Ivan Antônio de Freitas - 04/07/1988 a 08/05/1990 e 04/05/1994 a 05/05/1998.
- Prof. Luiz Ribeiro Dias Filho – 06/05/1998 a 05/05/2002 - conforme portaria 269 do Ministro da Educação e do Desporto, DOU 30/03/98.
- Prof. Rômulo Eduardo Bernardes da Silva, conforme portaria 1487 de 15/05/2002 com início do exercício em 17/05/2002 sendo nomeado Reitor Pro Tempore do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas conforme portaria 1086 do Ministro da Educação Fernando Haddad publicada em 29 de maio de 2006 com início do exercício em 08/01/2009 sendo substituído pelo Prof. Luiz Carlos Machado Rodrigues pela portaria número 1 de 30 de janeiro de 2009 com início do exercício em 4 de fevereiro de 2009.
- Prof. Luiz Carlos Machado Rodrigues foi eleito para o cargo de Diretor Geral em 24 de março de 2010 até 2018.
- Prof. Renato Aparecido de Souza assumiu a direção-geral em 15 de agosto de 2018 e atualmente é o Diretor-Geral do IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho.
Não é possível, no entanto conceber toda a história da Escola Agrotécnica Federal em um espaço tão pequeno, pois são mais de 50 anos de história, desde o primeiro momento de sua concepção em 1948 até sua transformação em campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia durante o governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva e a federalização do curso de Educação Física de Muzambinho.
Também não é possível pensar em Muzambinho sem a Escola Agrotécnica Federal, hoje campus Muzambinho do Instituto Federal do Sul de Minas Gerais, e seus alunos que chegam de várias partes do país e, aos poucos, passam a fazer parte da cidade, amando como quem ama sua própria terra natal, como aconteceu com ex-alunos que aqui se estabeleceram e formaram família.
Esta é, sem dúvida, uma História que sempre terá um recomeço, a cada novo ano, com os estudantes, professores e servidores.
Observação: Na sua existência sempre ligada ao Ensino Agrícola, recebeu três denominações: de 1953 a 1964, Escola Agrotécnica de Muzambinho; de 1964 a 1979, Colégio Agrícola de Muzambinho e pelo Decreto nº 83.935 de 04/09/1979 até 29 de dezembro de 2008, Escola Agrotécnica Federal de Muzambinho-MG. A partir desta data passou a ser denominada Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais – campus Muzambinho.
Elaborado por Neide Barbosa – professora de História da Casa da Cultura de Muzambinho em trabalho coordenado pelo Secretário de Cultura e Turismo Fernando Antônio Magalhães no exercício de 1995-2000.
O texto foi acrescido de novas informações a partir de 1998 por Fernando Magalhães, técnico efetivo do Instituto Federal em março de 2010.
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