Importância do descarte correto de resíduos em tempos de pandemia
Você sabia que cada brasileiro produz, em média, 379,2 kg de lixo por ano? Ou seja, mais de 1 kg por dia? E sabia que, nos últimos dez anos, a geração total de resíduos sólidos urbanos no Brasil cresceu 19%? Subindo de 67 milhões de toneladas por ano (em 2010) para 79,6 milhões de toneladas por ano (em 2019), segundo dados do Panorama dos Resíduos Sólidos do Brasil 2020.
E para onde vai todo esse lixo? Em tempos de pandemia, será que o descarte de resíduos contaminados está sendo feito corretamente?
Essas questões despertaram a preocupação de pesquisadores do IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho, da UFMG e da UNINCOR ao analisarem que a atual política nacional de resíduos sólidos está deficitária em relação ao crescente descarte.
Tal análise chamada de "Reflexões sobre a política nacional de resíduos sólidos e a pandemia da COVID-19: Gerenciamento adequado" foi publicada na última edição da revista Research, Society and Development e teve como objetivo compreender o ritmo de produção dos resíduos e ao mesmo tempo propor a criação de estratégias de prevenção e mitigação de danos ambientais no ambiente hospitalar.
O artigo foi escrito pelo professor do Campus Muzambinho, Fabrício dos Santos Ritá, pelo professor da UFMG, Luciano dos Santos Rodrigues e pelos professores da Universidade Vale do Rio Verde, Gabriela Arja Auad, Rosângela Francisca de Paula Vitor Marques, Eliana Alcantra, Alisson Souza de Oliveira e Aurivan Soares de Freitas.
O descarte de resíduos e a pandemia
Segundo a pesquisa, a questão do gerenciamento durante a pandemia da COVID-19 tornou-se uma situação crítica, "este que antes já enfrentava problemas quanto a gestão adequada, agora lida também com o aumento da quantidade de resíduos que está sendo gerada, principalmente os resíduos de serviço de saúde que são perigosos e necessitam de tratamento diferenciado. É imperioso que haja o treinamento a fim de realizar todas as etapas do gerenciamento desse tipo de resíduo de forma eficiente, necessitando que estes sejam separados e armazenados dos outros resíduos e coletados e tratados por serviços específicos".
Dados da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe - 2020) citados no artigo, ainda ressaltam que durante a pandemia e por conta das medidas de quarentena, isolamento e distanciamento social, "haverá um aumento relevante na quantidade gerada de resíduos sólidos domiciliares (15-25%) e um crescimento bastante considerável na geração de resíduos de serviço de saúde em unidades de atendimento à saúde (10 a 20%)".
A previsão feita pela Associação é que, até 2050, a produção de lixo deverá crescer mais 50% e poderá alcançar 120 milhões de toneladas por ano.
Como descartar corretamente os resíduos?
Quando tratamos de resíduos domiciliares, a preocupação com o descarte deve ser evidenciada. Afinal, assim como em ambientes hospitalares, a pandemia levou toda população a utilizar objetos potencialmente contagiosos como máscaras e demais ítens de proteção e higiene.
Segundo o professor Fabrício dos Santos Ritá, resíduos como máscaras usadas e demais itens devem ser acondicionados em duas embalagens de sacos plásticos, para evitar a contaminação dos profissionais de limpeza pública, responsáveis pela coleta e transporte para o aterro sanitário.
Já no aterro, a recomendação é que tais resíduos sejam aterrados diariamente para evitar contaminações.
O professor ainda destacou que quando tratamos de sólidos urbanos classificados como resíduos de serviços de saúde, perfurocortantes e infectantes, estes devem ser descartados, removidos, acondicionados, transportados e tratados corretamente, uma vez que. sua natureza exibe riscos potenciais de transmissão de doenças infectocontagiosas. "No âmbito dos resíduos de serviço de saúde, os quais são gerados em hospitais (RSS) é necessário o acondicionamento correto conforme as especificações da RDC 22/2018 quanto ao acondicionamento, sendo que o transporte deverá ser realizado por empresa especializada e os resíduos provenientes desse serviço deverão ser incinerados e posteriormente aterrados em um aterro de classe 1".
Segundo Fabrício, "associado á conjuntura ambiental há de se considerar as atividades laborais dos profissionais envolvidos na sua manipulação e contato direto com os indivíduos que estejam diante da obtenção de atendimento médico ambulatorial e hospitalar. Na abordagem do Coronavírus a complexidade da assistência abrange a substituição dos Equipamentos de Proteção Individual por se tratar de contaminação por contato, como luvas, máscaras, jalecos descartáveis e propés, elevando ainda mais o quantitativo dos resíduos nos hospitais e tornando-se contaminantes após o atendimento a pacientes que foram acometidos pela doença. Associado a todos estes condicionantes ainda há a exposição dos profissionais de limpeza pública no transporte e nos aterros sanitários quando acondicionados incorretamente".
A necessidade do estudo
De acordo com os autores do artigo, a iniciativa de pesquisar a forma do manejo e do tratamento ambientalmente adequado dos resíduos foi motivada a partir de uma produção científica publicada no congresso nacional de meio ambiente de 2020 e pelo agravamento da pandemia de Covid-19. "Uma vez que a população gera os resíduos contaminantes na época de pandemia e os hospitais prestam serviços com a produção de resíduos de origem biológica, há a necessidade de um monitoramento contínuo e rigoroso, e se tratando de um momento em que as hospitalizações atingiram sua capacidade máxima na pandemia, estes também sofreram um aumento preocupante e exponencial".
O docente ainda ressalta que o tratamento adequado dos resíduos representa um desafio global, considerando a crescente demanda por bens de consumo, o envelhecimento da população e a prestação de serviços assistenciais especializados em saúde. "O cerne das questões envolvendo o meio ambiente permeiam a educação ambiental como uma ferramenta fundamental para a criação de novos hábitos sociais, a responsabilização social, civil e jurídica, a implementação das Leis Ambientais como um instrumento de proteção e regulação para a saúde ambiental e promoção da saúde. No contexto local das comunidades é importante o estímulo e á motivação para a coleta seletiva, centros de triagem de resíduos sólidos e o manejo desde a geração à disposição final em áreas ambientalmente adequadas constituindo a gestão e o gerenciamento em âmbito municipal, posturas pedagógicas e educativas em prol do atendimento dos ODS 2030 (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas) e principalmente o compromisso da manutenção do meio ambiente equilibrado para as futuras gerações como prevê o artigo 225 da Constituição Federal de 1988".
Diante da crescente necessidade de adaptação das políticas nacionais de descarte de resíduos observadas no artigo, os atores sugerem como trabalhos futuros:
- o gerenciamento de resíduos de serviço da saúde em época de pandemia;
- mudança nos hábitos da população em relação a geração de resíduos;
- a preservação dos recursos naturais como forma de promover a sustentabilidade;
- observar a questão dos resíduos sólidos e a problemática do descarte inadequado;
- a verificação de poluições que podem afetar a saúde pública da população devido ao gerenciamento inadequado dos resíduos.
TEXTO: IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho
IMAGENS: Research, Society and Development
Acervo do professor Fabrício dos Santos Ritá
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