A história de uma menina que cresceu na Escola Agrotécnica de Muzambinho
A história de uma das personalidades que faz parte dos 70 anos do IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho é de uma menina que cresceu correndo pela Escola Agrotécnica: a Fábia Rossi da Silva, filha mais velha do professor José Rossi e da Dona Venturosa Bueno Rossi. O pai da pequena criança veio atuar como docente da Escola e ela, com seus 5 anos de idade, passou a morar em um espaço com um “quintal” gigante e cheio de novos amigos. Houve uma época em que os servidores moravam na Instituição.
Fábia, atualmente mora em uma cidade chamada Elizabeth, no Colorado, nos Estados Unidos, é casada, tem três filhos, mas o início de sua jornada começa em Muzambinho, local onde seu pai dedicou 33 anos de sua vida em prol da educação. Rossi começou como docente em 1961 e foi Diretor da Escola Agrotécnica de 06 de abril de 1967 a 03 de julho de 1988 e, entre 09 de maio de 1990 a 03 de maio de 1994. Ao todo foram 25 anos à frente da Instituição.
O casal, José Rossi e Venturosa, teve três filhos, Fábia, Fábio e Alisson. A filha do professor Rossi contou que seus irmãos estudaram na Escola Agrotécnica, mas que ela não realizou nenhum curso na Instituição, mas sente que teve grandes aprendizados neste local. Sempre que Fábia vem ao Brasil, ela faz uma visita ao Campus Muzambinho. Em sua entrevista, Fábia recordou que seu pai sempre dizia que um dia iam mudar-se daqui, mas que a casa deles iria ser mantida e teriam a satisfação de trazer seus filhos para conhecerem onde foram criados. “Meu pai sempre falava uma coisa interessante que eu lembro, ele falava assim: ‘Vocês vão ter a felicidade de um dia poder mostrar para os teus filhos onde vocês cresceram. Muita gente não tem essa oportunidade e esse é o maior presente que eu vou dar para vocês. A casa não é sua, a gente vai mudar, mas vai permanecer’.” Na ocasião, Fábia estava com seu filho, Daniel, e orgulhosa por mostrar onde cresceu.
Quando morou na Escola Agrotécnica, Fábia relembra que em sua casa, atual Brinquedoteca, tinha uma colmeia e ficou surpreendida por ver que ela ainda existia. “Quando cheguei para visitar a casa em que morei quando tinha cinco anos, comecei a procurar pela colmeia na parede do lado de fora. Era uma colmeia dentro da pedra e eu e meus irmãos sabíamos da sua existência. Para mim, aquela colmeia é o símbolo do que resistiu ao tempo. Eu vi as abelhinhas e sei que elas não estão mais lá, mas a cidade continua existindo embaixo. Acredito que aquela colmeia esteja lá desde antes do meu nascimento, há mais de 60 anos”.
Sobre sua casa ter se tornado um ambiente voltado para práticas pedagógicas, Fábia retrata que seu pai teria orgulho em ver a transformação do espaço. “Quando vim visitar, vi que se tornou um departamento pedagógico, e pensei: Nada mais apropriado. Então, imaginei que meu pai deve estar vendo de onde ele está e pensando: ‘Isso é o que eu queria, era meu sonho que isso acontecesse’. Quando ele faleceu, as coisas começaram a se movimentar e parecia que já estavam caminhando na direção da visão que ele desejava que se concretizasse”.
A menina Fábia era travessa e relembra que todos ajudavam a cuidar dela, que viviam em uma grande família. A pequenina escalava a caixa d’água e logo surgia alguém para retirá-la de lá e avisava seu pai sobre a travessura. Ela conta que aprendeu com a Dona Maria que lavava a roupa que não poderia pisar descalço em determinados lugares, que o Senhor Juca orientava sobre o perigo das onças que viviam no mato, mas também falava sobre a importância da preservação. O seu maior aprendizado foi fora de uma escola convencional. “Hoje em dia, com 59 anos, extremamente bem vividos, eu acredito que a educação que eu recebi aqui, educação de todos, [...] essa já bastava”.
Outro relato de Fábia é sobre sua certeza de que todos faziam parte da sua família. A sua rotina estava inserida no dia a dia da Escola Agrotécnica, ela conta que sempre interrompia seu pai durante as reuniões e todos a conheciam. “Eu tenho recordações de muitas vezes acontecer alguma coisa com meu cachorro, aí eu ia correndo para falar com meu pai. [...] Eu entrava no meio da reunião, às vezes meu pai estava em reunião com o pessoal de Brasília, Dr. Lamounier, eu me lembro dele como se fosse tio”. O professor Rossi muitas vezes precisou interromper suas atividades para ajudá-la. “Meu pai sempre foi uma pessoa assim, um paizão. E não só para a gente, mas para os alunos”.
Durante a entrevista, Fábia conta feliz sobre ter sido parada em um restaurante, dias antes, por uma pessoa que se recordava do seu pai. “Uma pessoa me parou e falou que lembrava do meu pai e que meu pai foi uma pessoa muito importante na vida dele. E que quando ele começou a estudar na escola, teve uma febre muito alta e ele lembra que estava longe da mãe e do pai. Meu pai, que era o diretor naquela época, olha como a situação era diferente, era menor, levou [o menino] para o hospital e de madrugada foi lá checar se a febre dele tinha baixado”. De acordo com ela, seus pais, assim como outros funcionários, cuidavam dos estudantes.
Fábia relatou situações em que teve que lidar com adversidades no trabalho quando administrou uma clínica pediátrica nos Estados Unidos e que, em meio a elas, sempre recordou dos aprendizados que teve com seu pai. “Meu pai era um líder, um diretor que, eu acredito, qualquer um pode dizer, ele observava e não mandava, ele trabalhava junto. Meu pai sempre disse que um administrador, um líder, ele tem que ter cuidado na hora de impor as regras, porque aquelas regras, ele vai ter que ser capaz de cumprir primeiro. Então, se você acha que não dá para qualquer pessoa cumprir aquilo que você está pedindo que façam, repense. Isso foi a coisa que eu mais aprendi com a dificuldade de lidar com pessoas de outras culturas. [...] Eu aprendi isso através da educação informal que eu tive aqui. O que essa educação te impõe nas entrelinhas é muito mais forte e marcante do que a educação que qualquer escola poderia dar. Tem sentimento, tem exemplo, e isso, acho que você leva para a vida inteira”.
Texto e fotos: ASCOM - Campus Muzambinho
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