Professor Ivan Antônio de Freitas: de aluno a diretor
A história de hoje tem início na cidade de Belo Horizonte - Minas Gerais, com o casal Diva Melo de Freitas e Ildefonsino de Freitas, pais de 11 filhos, um deles muito conhecido atualmente, Ivan Antônio de Freitas. Foi no dia 09 de fevereiro de 1961, que o casal, após descobrir a existência de uma Escola Agrícola em Muzambinho, enviou seu filho para estudar. O menino, de apenas 12 anos de idade, chegou à Instituição depois de dois dias de viagem. A sua trajetória em Muzambinho começou a ser escrita em 10 de fevereiro de 1961.
O personagem deste capítulo dos 70 anos do IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho chegou a Muzambinho como aluno e passou por várias ocupações: de professor horista a diretor da Escola. Acompanhe algumas passagens da vida de um educador que passou 31 anos de sua vida em busca de transformar o mundo por meio da educação.
Ivan chegou à Instituição ainda menino, depois de ter passado três anos entregando pão e leite em Belo Horizonte, com o objetivo de ajudar o pai a complementar a renda familiar. “A leitura que eu faço é a seguinte: meu pai colocou no ônibus [...] ele teria pensado assim ‘vai para essa escola e come, se der, aproveita e estuda’. Porque a necessidade era grande, eu ganhava meio salário mínimo, 2.650 cruzeiros, e meu pai ganhava um salário mínimo, 5.300 cruzeiros. Então esse um salário mínimo e meio é que mantinha a nossa família”. A realidade enfrentada pelo estudante era dura, mas ele faz questão de ressaltar a gratidão por tudo aquilo que aqui viveu.
Os pais de Ivan não tinham condições de comprar material escolar para o filho, mas isso não o impediu de seguir com seus estudos. Ele tinha um único caderno para tomar nota de todas as disciplinas, e era obrigatório que os alunos copiassem o conteúdo ministrado. Entre uma aula e outra, Ivan apagava o que havia anotado para que pudesse copiar o que seria ensinado na aula seguinte. Assim, em meio às dificuldades financeiras, seguiram-se os anos de aprendizado do garoto, que passou boa parte do tempo calçando uma botina doada e amarrada com arame.
Ivan relembrou um episódio de 13 de julho de 1961, quando recebeu de seu pai um vale postal com a quantia de dois mil cruzeiros para visitar a família em Belo Horizonte. Ele explica que o envelope chegou na inspetoria da Escola, onde, por segurança, retiraram o dinheiro, depositaram em uma conta e entregaram o envelope vazio para ele. No dia de sua viagem, ele retirou o dinheiro na inspetoria e seguiu sozinho rumo à capital mineira. No percurso, foi necessário passar uma noite em Poços de Caldas para depois seguir viagem. Em Poços, ele alugou, em uma pensão, uma cama que estava disponível em um quarto com outras pessoas. Durante a noite, um caminhoneiro fez com que o menino trocasse de lugar com ele, que se viu obrigado a passar a noite, sem reclamar, em uma cama infestada de pulgas, no dia seguinte, continuou sua viagem rumo à casa de seus pais. Ele relatou que o seu pai ficou satisfeito ao vê-lo prestando contas dos gastos com a viagem e devolvendo o troco. Havia sobrado 400 cruzeiros, e Ivan sabia que o dinheiro faria falta para a sua família.
Ivan passou oito anos estudando em Muzambinho e fez, inicialmente, o curso de Operário Agrícola, na sequência, o de Mestria Agrícola e, por fim, o de Técnico Agrícola. O curso Técnico Agrícola voltou a funcionar na Instituição em 1964, quando o então diretor da época, Dr. Darcy Rodrigues da Silva, acompanhado de um grupo de alunos, foi até Brasília, onde conseguiram autorização para implantar o curso novamente. Ivan conta que encerrou seus estudos no ano de 1969 e formou-se em 13 de maio de 1970.
Enquanto fez o curso de Técnico Agrícola, Ivan foi convidado pelo Diretor da época, professor José Rossi, para lecionar a disciplina de Educação Física para seus colegas de turma. De acordo com Ivan, os professores de Educação Física eram atletas ou militares, e ele tinha resultados expressivos como atleta. Desta maneira, passou a substituir, sem honorários, um docente que estava enfermo. O professor Ivan chegou a graduar-se em Educação Física, na Escola Superior de Educação Física de Muzambinho.
Após a sua formatura, Ivan retornou a Belo Horizonte. Lá fez outros cursos, como Mercado de Ações e Enfermagem. Ainda na capital Mineira, recebeu o convite do professor Rossi para retornar a Muzambinho e assumir o cargo de professor horista de Educação Física. Ivan aceitou e passou a atuar como docente horista; na sequência teve seu registro no regime CLT e depois tornou-se professor efetivo. Ivan casou-se com Maria Auxiliadora de Freitas, a “Dote”, com quem teve duas filhas: Viviane Pulcinelli Freitas e Renata Pulcinelli Freitas. O pai de sua esposa, o senhor Hermenegildo Pulcinelli, foi um dos construtores da Escola Agrotécnica de Muzambinho, cujas primeiras obras tiveram início em 1948 e foram finalizadas em 1953, quando a escola foi inaugurada pelo presidente Getúlio Vargas.
Uma curiosidade da época: por 15 anos, o professor Ivan atuou como enfermeiro da Escola. O espaço seria fechado por falta de profissionais, e o professor Ivan se voluntariou para exercer a função, que assumiu sem qualquer remuneração, mas seguiu simultaneamente como docente.
No ano de 1979, o professor Ivan foi convidado a ser vice-diretor pelo professor Rossi, assumiu o cargo, na época não era uma função remunerada, passou a ter remuneração, na década de 80, quando tornou-se diretor adjunto. Nosso protagonista seguiu também como professor, foi um pedido feito por ele ao diretor, pois ele sentia prazer em lecionar.
O professor Ivan foi diretor substituto no período de 04 de julho de 1988 a 08 de maio de 1990 e foi eleito como diretor em 04 de maio de 1994 por unanimidade entre docentes e técnicos administrativos, embora tenha perdido entre os discentes. Ocupou o cargo até o dia 05 de maio de 1998.
Como diretor da Escola Agrotécnica Federal de Muzambinho, o professor Ivan frisou que pôde desenvolver diversos projetos, mas que todos foram realizados em equipe, e ele nunca fez nada sozinho. Dentre as obras deixadas por sua gestão, destacam-se o Curso Técnico Integrado em Informática, a estruturação do laboratório de solos e o gramado do campo de futebol.
O prédio onde funciona hoje o Setor de Agroindústria foi desenhado pelo próprio professor Ivan, que nos contou ter buscado referência na arquitetura do Prédio do Pentágono, Estados Unidos. Após o desenho ser finalizado, foi encaminhado para que os responsáveis pelo projeto pudessem executá-lo conforme as normas vigentes. Cada uma das pontas do prédio foi pensada para que uma determinada área da Agroindústria fosse abrigada: área pedagógica, área de depósito/almoxarifado, área para produção de derivados do leite, área para industrialização das carnes e a área destinada às frutas.
O professor relembra que, ao lado de sua equipe de trabalho, pôde realizar muitas ações dentro da Instituição, mas acredita que recebeu muito mais da Escola Agrotécnica do que ele mesmo pôde ofertar. Outro dos feitos rememorados pelo Professor Ivan foi a implantação do sistema de Self-Service no restaurante estudantil. Até então, os alunos eram servidos através do sistema “bandejão”, e houve resistência por parte da comunidade quanto à mudança desse formato. Apesar disso, Ivan insistiu na ideia propondo uma experiência de 2 meses. O resultado foi um sucesso, além de ter sido pioneiro dentre as instituições de ensino, tornando-se um modelo para outros educandários.
Com o aumento no número de alunos, o ambiente do restaurante foi ampliado e houve uma redução no espaço físico da cozinha. O objetivo era acomodar melhor os estudantes. Outra ação idealizada por Ivan foi o uso de toalhas brancas na mesa para que os estudantes pudessem ter mais atenção ao seu comportamento durante as refeições. O professor diz que o aprendizado estava em perceber que estavam sujando e que deveriam melhorar seus modos à mesa. Na gestão do professor, os estudantes eram separados em grupos para realizarem as refeições em horários distintos e aprendiam etiqueta à mesa.
São muitas as histórias que o Professor Ivan traz em sua bagagem, e ele carrega consigo o orgulho de ter deixado um marco positivo para esta instituição que o auxiliou na construção de sua reputação e caráter. Ao final da entrevista, o Professor Ivan incentivou a todas as pessoas que desejam estudar no Campus Muzambinho no sentido de que busquem atingir suas metas. Por fim, deixou um sincero conselho fundamentado nos muitos anos de experiência proporcionados por esta instituição:. “Venham para cá e com um detalhe importante: quem não busca o futuro que quer, tem que aceitar o futuro que vier” - concluiu o professor Ivan.
Texto e fotos: ASCOM - Campus Muzambinho
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