Vitor Hugo relata as histórias vividas no IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho

Os egressos do IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho demonstram profunda admiração por tudo que aqui viveram, seja no início de tudo ou nas décadas que foram passando. A história que será retratada nas próximas linhas será de Vitor Hugo Nascimento, nascido em Bom Sucesso - Minas Gerais, o egresso carrega no olhar marejado o amor que sente pelos episódios vividos na Escola Agrotécnica. Atualmente é casado com Carmem, pai de três filhos e avô de dois netos.

Ele é o segundo filho de Augusto Nascimento e Amália Alves Nascimento a vir estudar na Escola Agrotécnica de Muzambinho. Vitor Hugo relembra que o irmão veio primeiro, no ano de 1959, logo que o pai faleceu. A mãe buscou contato com a rede de amigos que o marido tinha, por intermédio do agente ferroviário, senhor Odilon Piconez, que trabalhava no trem em Muzambinho, o Diretor da Escola na época, Doutor Paulo de Azevedo Berutti, tomou conhecimento sobre a situação da mãe de Vitor Hugo. O Diretor, por coincidência, era cunhado da vizinha de dona Amália e pediu que enviassem Antenor Alves Nascimento, irmão mais velho de Vitor.

Em uma época em que os recursos de comunicação eram escassos, a família soube da existência da Escola Agrotécnica por meio do contato entre amigos. A cidade natal de Vitor Hugo fica há cerca de 291 km de Muzambinho. O egresso relembra que seu irmão queria que ele viesse estudar na Escola e disse que aqui havia um grande rio para nadar. Vitor Hugo gostava muito de nadar e ficou entusiasmado com a ideia e, em 1961, veio estudar em Muzambinho. De acordo com ele, chegou aqui e não existia o tal rio, mas descobriu um “oceano de possibilidades” - palavras de Vitor Hugo.

Vitor Hugo fez os três cursos ofertados na Escola Agrotécnica/ Colégio Agrícola: Iniciação Agrícola, Mestria Agrícola e Técnico Agrícola - sendo formado na terceira turma de Técnico Agrícola. O egresso conta que durante o período em que estudou na Instituição recebeu o apelido de “Biscoitão” e é conhecido como tal até hoje. Cada estudante recebia um apelido e o mesmo acompanha os egressos até os dias atuais.

Na época em que Vitor Hugo ingressou na Escola Agrotécnica, o Dr. Paulo de Azevedo Berutti era o Diretor. O egresso comenta que ele era uma pessoa muito calma, positiva e tinha uma conversa mansa. Vitor Hugo recorda que o Dr. Paulo não lecionou na Instituição, apenas exerceu o cargo de diretor. Já o Dr. Darcy Rodrigues da Silva, que assumiu o cargo após a gestão do Dr. Paulo, além de Diretor era professor.

A área esportiva da Escola Agrotécnica era um destaque a parte. Os estudantes tinham a possibilidade de treinar diversas modalidades esportivas e são lembrados pela qualidade esportiva por diversos entrevistados. Vitor Hugo foi um dos atletas da época em que estudou em Muzambinho. Ele participava de corrida, natação, vôlei, futebol. Ele conta orgulhoso algumas passagens vividas e uma delas é ligada a uma corrida, ele treinava diariamente na Escola. “Eu corria todo dia! Aqui tinha uma famosa corrida que era chamada de 'Volta no Morro Preto'. A gente saía por cima do estábulo da escola, debaixo do relógio, tinha cinco a seis porteiras para abrir, pegava a estrada de Nova Resende, saía no portão da Escola. O portão, naquele tempo, era em frente à Usina e ali tinha um portal escrito: Escola Agrotécnica.” Em uma das vezes que fez a “Volta no Morro Preto”, Vitor Hugo atingiu a marca de 20 minutos, na época, os corredores faziam entre 23 e 25 minutos. Ele sorri ao lembrar que conseguiu o feito para não se atrasar para a hora do jantar, que era servido até às 17h45 na Escola.

Outra história contada por Vitor Hugo é sobre a corrida que fez com o fogo simbólico. Ele foi o último atleta a correr, era um revezamento feito de Muzambinho a Cabo Verde, chegou na praça da cidade, havia uma multidão que ocupava os dois lados da calçada. Vitor Hugo passou a tocha com o fogo simbólico para o Hugo Vitor, o egresso sorri ao contar dos nomes invertidos e comenta que, mesmo se passado mais de 50 anos, sabe do paradeiro do outro corredor. “O fogo simbólico continuou. O fogo foi trazido por um general, do Rio Grande do Sul, que percorreu o Brasil todinho com essa tocha e passou por aqui em 1965”.

Vitor Hugo também aborda uma recordação com o professor Alencar Bernardo, um entusiasta dos esportes. O professor disse que Vitor Hugo era um atleta completo. O elogio deixa o egresso feliz, que segue contando outra prática esportiva realizada na Escola Agrotécnica. Essa era coordenada pelo servidor Corote, o senhor Adolfo Vieira, organizava o torneio de futebol com os alunos. Os times eram divididos por cores, Vitor Hugo foi campeão com diversas cores, chegou a ser artilheiro com 21 gols, mas nunca chegou a integrar o time principal da Escola, tamanho era o talento dos estudantes.

O menino que foi criado nas margens do rio, que amava nadar e foi atraído para a Escola por achar que seu irmão falava a verdade sobre o rio que existia aqui. Já era apaixonado por Muzambinho e pelo lugar que estudava. A natação seguia sendo algo importante para o seu dia a dia, tanto que podia fazer frio ou estar chovendo, que Vitor Hugo descia até o açude da escola, antes do café da manhã, nadava 100 metros, subia correndo, comia quatro gemas cruas, ia para o refeitório tomar café e seguia com sua rotina de estudo. Os alunos também se envolviam em traquinagens. Eles apanhavam cachos de banana verdes e enterravam nos cupins dos bastos. As bananas amadureciam mais rápido, ao mesmo tempo e os jovens se fartavam em comer a fruta.

Os estudantes, inclusive Vitor Hugo, participavam ativamente da Fanfarra da Escola e a cidade ficava em polvorosa para assistir as apresentações. Na inauguração do busto do Salatiel de Almeida, nome de uma das Escolas Estaduais da cidade, Vitor Hugo foi o responsável por tocar a Marcha Batida, no ano de 1966.

Vitor Hugo destaca que os conteúdos ministrados nas aulas da Escola ficaram marcados em sua memória. A Dona Meire Abdala, professora de História Geral, de acordo com Vitor Hugo, viajava com os estudantes pelas Pirâmides do Egito, Rio Eufrates, Rio Tigre e a forma como dava suas aulas era tão especial, que cativava os alunos e todos se recordam saudosos da professora.

Se teve uma atividade escolar que marcou Vitor Hugo foi uma redação escrita aos 13 anos de idade. No ano de 1962, o professor José Resende Lara, além de ser o promotor de justiça da época, lecionava a disciplina de Português para os alunos. Ele promovia um desafio de redação, não havia prêmios, mas os alunos se esforçavam para ganhar, um tema era apresentado e todos começam seus textos. Determinado dia, o professor pediu que escrevessem sobre o nada e Vitor Hugo ganhou.

O egresso tem uma cópia da redação (confira na galeria de fotos) e relembra empolgado trechos de sua obra. Ele conta que recentemente um amigo lembrou do texto vencedor e pediu para reler a redação escrita por Vitor Hugo. Os aplicativos de bate-papo auxiliam na proximidade dos estudantes que por aqui passaram.

O mesmo professor das redações, ministrava suas aulas com vários tons de voz diferentes. De acordo com Vitor Hugo, o objetivo era não cansar os alunos e chamar a atenção para o conteúdo. Cada frase era dita com um tipo de entonação. Nas aulas na Biblioteca, o professor Lara desafiava os alunos a falarem qualquer palavra para que ele apontasse o significado. Vitor Hugo explica que o professor era um profundo conhecedor de Latim e pelo radical da palavra, explicava o significado para a turma. As lembranças de Vitor Hugo são de fatos que ocorreram há 62 anos, mas ele relata como se tivesse vivido os momentos no dia de ontem.

Após concluir seus estudos no então Colégio Agrícola de Muzambinho, nome adotado a partir de 1964 e que permaneceu até 1979, Vitor Hugo tentou se manter jogando basquete em Belo Horizonte para realizar um curso superior, mas teve que desistir, prestou concurso no Rio de Janeiro, no entanto não foi nomeado. Até que decidiu voltar para sua cidade natal e foi convidado a lecionar matemática. Ele foi considerado um excelente professor.

Até que surgiu a possibilidade de realizar um concurso para o IBC - Instituto Brasileiro do Café. Vitor Hugo estava pescando, um conterrâneo foi chamá-lo e ele atravessou o rio nadando. Na mesma noite seguiu rumo a Belo Horizonte e foi aprovado para atuar com o café. Ele passou por diversas regiões do Brasil, diziam que ele tinha a linguagem do homem rural, fez muitos amigos, ajudou muitos produtores e foi reconhecido como o “Biscoitão” por onde passou.

O IBC foi extinto, os servidores transferidos e começava a carreira de Vitor Hugo na Escola Agrotécnica Federal de Muzambinho. Ele iniciou como aluno e retornava como servidor, tendo atuado em diversos setores. Até que chegou a aposentadoria, em 1995, mas Vitor Hugo retornou como contratado em 2004 e ficou por mais quatro anos, inclusive lecionando em um dos polos da Instituição. Os laços do egresso e servidor aposentado perduram, ele é suplente de Jorge Wanderley no Conselho de Diretores do IFSULDEMINAS.

O senhor de riso largo, prosa envolvente e olhar marejado poderia passar muitas horas relembrando suas passagens no Campus Muzambinho. No entanto, após muitas risadas termina sua entrevista com uma mensagem séria aos que aqui estão. “Com todo o respeito a essa tecnologia de hoje, eu relembro que aqui na Escola, agora está tudo asfaltado, é concreto, mas eu sempre me lembro que embaixo desse concreto, [...] lá no fundo, se alguém fizer uma uma perícia [...] vai achar nossas pegadas.[...] Nos primeiros pisos, essas pegadas estão fossilizadas. Eu falo para todo estudante que está aqui[...] que também deixe suas pegadas marcadas, os anos jamais apagarão. A gente tem que construir hoje para colher o amanhã e o setor produtivo, a agricultura é a base da vida no planeta”.

Texto e fotos: ASCOM - Campus Muzambinho